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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sobram lotes no DF

Em meio à carência de moradias em que vivem cerca de cem mil famílias no Distrito Federal, a empresa responsável pela venda de lotes, a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), não consegue vender mais de 40% dos terrenos que oferece. Especialistas atribuem o baixo desempenho nas vendas aos altos preços definidos para as unidades. A empresa, no entanto, rebate a ideia ao dizer que pratica apenas os preços de mercado.

O relatório Anual da Terracap revelou que em 2009, na soma das 14 licitações realizadas durante o ano, foram vendidos 962 terrenos com destinações variadas, em diversos setores do DF, do total de 2,4 mil unidades colocadas à venda. O número representa apenas 40,22% do total de lotes ofertados pela empresa. Nos anos anteriores, os percentuais de venda de imóveis foram ainda mais baixos, de 33,69%, em 2008, e de 38,53%, em 2007.

De acordo com o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF), Adalberto Valadão, a Terracap tem superavaliado os lotes. "Por ser a única a deter os lotes, a Terracap fica à vontade para colocar o preço que quiser nos terrenos. Ela não tem concorrência e define os preços mínimos dos imóveis acima do que deveria", destaca Valadão. Ele comenta que a empresa, por se tratar de órgão do governo, deveria preocupar-se em exercer política social e tornar os lotes mais acessíveis.

Os irmãos e empresários Wudson Pereira de Souza, 46 anos, e Gil Pereira, 43, participaram de licitação realizada ontem para adquirir dois lotes no Guará. "Não é a primeira vez que participo do leilão. Já comprei dois outros lotes e a vantagem é a segurança de ter a documentação completa e de saber que o lote transmite confiança. Mas são caros. Há cinco anos era mais barato. Hoje tive que dar um lance muito alto, de R$ 201 mil, para tentar comprar um terreno de 144 m2 no Guará. Estou feliz porque não ganhei. Estava caro e eu ia me arrepender depois", reclamou Wudson.

Dez anos para o retorno
O deficit habitacional do DF é de 100 mil moradias, segundo Adalberto Valadão. "Se existe a demanda no mercado e a empresa fica com estoque é porque errou no preço. Não tem outro motivo", diz o presidente da Ademi-DF. Ele explica que alguns lotes recebem lances superiores ao valor de mercado e que, por isso, a Terracap pode julgar que há espaço para o aumento dos preços. "A análise está errada. A empresa deveria deixar os preços mais baixos e o leilão se encarregaria de regular os preços. Se diminuíssem os preços, poderiam melhorar a performance de vendas e chegar aos 100%", analisa.

Sobre a definição dos preços, a Terracap alegou que sempre praticou o preço de mercado e que mantém equipe ocupada exclusivamente na avaliação do valor de cada lote. A justificativa da empresa para o baixo desempenho nas vendas é de que na modalidade de leilão, nem sempre os que dão o maior lance realizam a compra do lote efetivamente. Além disso, alguns lotes recebem muitas ofertas de lances, enquanto outros similares, na mesma localidade, não recebem nenhum.

ESPECULAÇÃO
O geógrafo e pesquisador do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais da UnB, professor Aldo Paviani, acredita que o DF passou por longo período de especulação, mas que agora já começa a sentir sinais de saturação. "Talvez agora não haja tanto comprador assim para terre- nos, porque os que compram terra bruta precisam esperar retorno para cinco a dez anos. Não é todo especulador que esta interessado em terras. Eles compram, principalmente, quitinetes e apartamentos e conseguem retorno maior", comenta.

Os lotes mais procurados são no Jardim Botânico, Samambaia e Noroeste, segundo a Terracap. Não há área no DF onde a procura seja menor. A empresa teve arrecadação recorde em 2009 e chegou ao número de R$ 1,7 bilhão graças à venda das projeções do Noroeste.

A arrecadação cresceu quatro vezes em 2009, em relação ao ano anterior, assim como o total de investimentos da Terracap no ano. De acordo com a empresa, foram feitos repasses ao GDF para a construção de diversas obras, entre elas Torre Digital, a revitalização e criação da feira da Torre de TV, além da pavimentação, drenagem e implantação de rede elétrica pela cidade.

Por meio da licitação de terrenos da Terracap é possível financiar a compra com juros de 12% ao ano. Para os servidores do GDF, há desconto nos juros, que caem para 6%. As parcelas são descontadas na folha de pagamento. É preciso depositar o valor da caução, igual a 5% do preço mínimo do lote, no BRB. Depois, é preciso preencher a proposta de compra com o lance. A proposta de maior valor será a vencedora. Os licitantes que não vencerEm podem reaver a caução após oito dias úteis da divulgação do resultado no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF).

Fonte: Jornal de Brasília

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