O sonho da casa própria está se transformando em noites em claro para moradores que receberam as chaves das unidades habitacionais no bairro Jardins Mangueiral, em São Sebastião. O empreendimento, erguido por meio de parceria público-privada, apresentou problemas de infraestrutura que dificultam as ligações de luz e o fornecimento inicial de água.
A Companhia Energética de Brasília (CEB) confirma que espera os reparos para dar continuidade às
ligações. Já a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) afirma que técnicos são
enviados periodicamente ao local
das obras para que os problemas
verificados nos primeiros condomínios não se repitam nos próximos.
Mesmo assim, os novos moradores estão preocupados com as instalações. O funcionário público
Odair Wanderley Coronheiro, 36
anos, recebeu as chaves de seu imóvel no fim de janeiro. A mudança, já
programada, agora parece distante.
Segundo ele, nem a ligação de
luz ou o fornecimento de água foram
habilitados até agora. “Minha situação é complicada. Já comecei a
pagar antes de morar. Luz e água é o
mínimo de infraestrutura para que possamos viver em qualquer lugar”,
desabafa o servidor.
Agora, além das prestações do
financiamento do imóvel novo,
Odair ainda arca com o aluguel de
mais de R$ 700, em Ceilândia. A
família também sofre com a questão.
A mulher dele é professora e, com a
previsão de mudança para uma região afastada, não pode continuar no
emprego. “Que dono de escola vai
continuar com uma professora que
vai ficar ali só durante algumas
semanas? Eles fizeram um acordo e
ela foi demitida”, relata o servidor.
Os dois filhos do casal também
se transferiram da escola em Ceilândia para uma próxima ao bairro
onde iam morar. “Todos os dias dirijo
mais de 50 quilômetros para levá-los
na escola e voltar. Imaginamos que já
estaríamos morando aqui depois que
entregaram minhas chaves e eu comecei a pagar”, conta.
SEM ACABAMENTO
Odair não é o único que enfrenta
transtornos. Alexandre Martins, 37
anos, também recebeu suas chaves
no fim de janeiro e se sente frustrado
com a falta de estrutura. “Já começamos a pagar e não podemos
nem começar as obras de acabamento, porque não temos água nem
energia ”, explica. Assim como Odair,
Alexandre é morador do terceiro
condomínio, o Ipês.
Antes dele, outros dois já receberam moradores, o Mangabeiras
e o Acácias. Moradores desses locais
relatam que tiveram problemas desde que receberam as chaves e buscaram providências e explicações das
concessionárias de luz e energia, porque, segundo eles, a empresa Jardins
Mangueiral dava informações vagas
sobre quando as instalações estariam
prontas para habitação.
Um morador, que preferiu não se
identificar relata que o tamanho dos
fios de energia para ligação eram um
palmo mais curtos que o necessário.
“Os técnicos da CEB vieram diversas
vezes aqui e falavam a mesma coisa.
Quando eu falava com a empresa,
eles negavam. Tive de confrontar os
dois para que o problema fosse resolvido”, conta. Relatos semelhantes
são feitos por outros moradores.
Água, esgoto e energia
A CEB confirma o relato dos
novos proprietários. Por meio de
nota, a concessionária explica que “a
empresa responsável por fazer os
ramais de ligação de energia naquelas casas deixou os cabos muito
curtos, não podendo ser alcançada a
rede da CEB quando equipes estiveram no local para fazer a ligação.” A assessoria também informou que durante algum tempo a
empresa negou o problema, impossibilitando que o reparo fosse feito.
Teria sido necessário que a concessionários enviassem um engenheiro ao empreendimento para
comprovar o problema.
A CEB aguarda agora que a
empresa faça esses reparos para dar
continuidade às ligações individuais
de luz. Mas essa não é a única
questão. Os primeiros moradores
afirmam que o fornecimento de água
demorou bastante para ser regularizado. Os novos moradores temem que o mesmo aconteça a eles.
“Com relação à água, nós não
sabemos o que está acontecendo.
Perguntamos na Caesb, na Jardins
Mangueiral, e ninguém fala nada.
O que ficamos sabendo é que estão
refazendo o que foi feito errado”,
afirma Wagner Álvares de Oliveira, 28 anos. Ele se refere ao
momento após a entrega das chaves, quando havia problemas de
abastecimento e a Caesb fez um
monitoramento das redes de águas
pluviais e de esgoto para que a
concessionária de água pudesse
liberar o fornecimento.
“Tempos passados a Caesb passou com um robozinho por aqui e
viu que tinha muita irregularidade.
A água pluvial junto com esgoto.
Mas já consertaram. Tiveram de
abrir uma rua toda de novo e desviaram a água. Tinha também canos
de rede pluvial passando perto da
eletricidade. Teve até lugares onde o
robozinho nem passava porque estava entupido”, relata o morador.
Esse problema também foi confirmado pela Caesb.
CORREÇÕES
Segundo o diretor de Engenharia
e Meio Ambiente da Caesb, Cristiano Magalhães Pinho, durante
uma vistoria foi detectada a necessidade de correções, que foram
passadas para o empreendedor.
Eram exigências com relação à declividade das tubulações de esgoto.
“Verificamos que alguns tinham bolsões. Esses pontos normalmente levam a entupimentos. Como o empreendimento tem casas no térreo,
isso provavelmente iria causar o extravasamento de esgoto dentro da
casas. Por isso, fizermos essas solicitações”, explica.
Ele também afirma que as cartas
para ligação das casas nos outros
condomínios chegaram somente na
última semana. O mesmo procedimento de vistoria será realizado e,
provavelmente, também serão verificadas as possíveis pendências
quanto a problemas anteriores. Técnicos foram posicionados para
acompanhar periodicamente as
obras e garantir que os procedimentos corretos serão feitos.
Na última quarta-feira, um dos
responsáveis pela empresa Jardins
Mangueiral esteve na sede e informou que os problemas estavam
sanados e que uma nova vistoria
será feita na próxima semana. Resolvida questão será emitido um
termo e feita a ligação provisória. A
partir daí, os moradores serão cadastrados para figurarem individualmente no sistema da Caesb ,
passando a receber a conta de água.
Não há caixas individuais
O diretor de Engenharia da
Caesb explica que o projeto de fornecimento de água do Jardins Mangueiral “difere um pouco da filosofia
técnica das práticas habituais da
Caesb”. Segundo Cristiano Magalhães Pinho, as normas da ABNT
determinam que cada unidade habitacional tenha seu próprio reservatório de água, suficiente para o
consumo de um dia inteiro. No entanto, a tecnologia usada pelo empreendimento foi de ter esse reservatório disponibilizado para cada
condomínio, e não cada domicílio.
Isso levou a equipe técnica a
considerar cada um dos condomínios como uma rede de distribuição
predial. Assim, a instalação interna
deles será considerada como predial.
Cada unidade, aliás, funcionará como um apartamento, com seu hidrômetro individual, e a quadra,
como um prédio.
A empresa Jardins Mangueiral
afirmou à reportagem que os procedimentos de vistoria e reparos de
possíveis erros verificados pela
Caesb são comuns. Informou também que desconhece qualquer ocorrência de problemas com o fornecimento de água. Qualquer questionamento técnico deverá ser corrigido dentro do prazo de garantia
que a empresa dá, tanto para reparos
na infraestrutura do condomínio como em eventuais problemas que
possam ser verificados no interior
das residências após a instalação.
A empresa também negou que
tenham ocorrido problemas com a
instalação de energia. De acordo com
a assessoria, eles também não foram
notificados pela CEB para sanar
qualquer problema na rede elétrica.
A empresa reforçou que foi emitido
pela Administração Regional de São
Sebastião o Habite-se – documento
que atesta que o imóvel foi construído seguindo-se as exigências da
legislação local para a aprovação de
projetos. Incluindo as instalações de
energia elétrica e água.
A empresa também confirma
que somente agora estão sendo realizadas as ligações individuais de
água, mas que, durante o período
anterior, todo o pagamento do fornecimento foi feito pela empresa.
Fonte: Jornal de Brasília (veja
aqui e
aqui)